Patrulha do Destino v2 #28
A Patrulha do Destino precisa entrar na "pintura que devorou Paris", a fim de salvar a cidade, o que fará com que a equipe enfrente a Irmandade Dadaísmo pela primeira vez. Será que a equipe de Cliff Stelle está preparada para as loucuras surreais do grupo do Sr. Ninguém? Descubra nesta edição cheia de referências literárias. Roteiro de Grant Morrison, desenhos de Richard Case e arte-final de John Nyberg. E por falar nas referências, vou postar aqui uma nota enviada, via email, do tradutor Bob Vertigo, na sua empolgada tradução. Vale mais como curiosidade, mas não é menos interessante por este motivo. Vou repassá-la na íntegra; é grande, mas vale a pena ver até onde vai as pesquisas de nosso dedicado tradutor:
"Sobre a edição 28, acho que a única observação digna de nota é sobre as falas da Jane Maluca nas páginas 21 e 22. Logo que a personalidade de "Chuva Pluva" (foi como a Brainstore ou seja lá que editora publicou o primeiro arco traduziu "Rain Brain") vem à tona, ela diz "riverrun". "riverrun" é a primeira palavra de Finnegans Wake, obra-prima de James Joyce (o que me alertou pra isso foi a seguinte resenha: http://www.rpi.edu/~bulloj/Doom_Patrol/issue28.html). Essa obra foi escrita em uma linguagem composta pela fusão de palavras, buscando uma multiplicidade de significados. Segundo a Wikipédia, "sua tradução para qualquer língua é complicadíssima, e qualquer tentativa é um ato de ousadia desde a primeira palavra do romance." Mesmo assim, houve duas traduções pro português, uma começando com "riocorrente" e a outra com "rolarrioanna".
Acontece que nós, brasileiros, temos nosso próprio James Joyce, alquimista de palavras, e ele se chama João Guimarães Rosa. Sua obra seminal, Grande Sertão: Veredas, a exemplo de "Finnicius Revém", também é praticamente impossível de ser traduzida pra outras línguas e também começa com uma palavra "com camadas": nonada. Então fiz a adaptação de "riverrun" pra "nonada". O legal é que casou muito bem com o que vem antes (no original, tem a aliteração do r: "never never ever ever riverrun...", na tradução, do n: "nunca nunca nem nada nonada") e é até coerente com o que vem depois (o original não tem essa coerência, "she sells sea shells" é só um trava-línguas comum por lá): "o demo no meio do redemoinho mostra monstro demonstrando que o medo" remete à famosa frase da contra-capa da obra de Rosa, que é o dilema do protagonista: "o diabo na rua, no meio do redemoinho".
Infelizmente, o último balão da Chuva Pluva não tem toda essa elegância. No orignal, eram várias palavras soltas rimando com "brain rain". Como em português tem que rimar com "chuva pluva", inventei que "Judas usa luvas e abusa de uva numa chuva pluva".
Só a título de curiosidade, a edição em inglês também tinha um trocadilho que veio de graça na tradução! Na página 5, quando Rebis descreve a Sonâmbula, ele diz: "Her thoughts wrapped in wool. Cotton wool." A tradução literal seria: "Os pensamentos dela enrolados em lã. Algodão.", mas como preferi manter o trocadilho, ficou: "Os pensamentos dela enrolados em algo. Algodão."
Legal, não é?
Tradução de Bob Vertigo
Letras de Von DEWS!
Acontece que nós, brasileiros, temos nosso próprio James Joyce, alquimista de palavras, e ele se chama João Guimarães Rosa. Sua obra seminal, Grande Sertão: Veredas, a exemplo de "Finnicius Revém", também é praticamente impossível de ser traduzida pra outras línguas e também começa com uma palavra "com camadas": nonada. Então fiz a adaptação de "riverrun" pra "nonada". O legal é que casou muito bem com o que vem antes (no original, tem a aliteração do r: "never never ever ever riverrun...", na tradução, do n: "nunca nunca nem nada nonada") e é até coerente com o que vem depois (o original não tem essa coerência, "she sells sea shells" é só um trava-línguas comum por lá): "o demo no meio do redemoinho mostra monstro demonstrando que o medo" remete à famosa frase da contra-capa da obra de Rosa, que é o dilema do protagonista: "o diabo na rua, no meio do redemoinho".
Infelizmente, o último balão da Chuva Pluva não tem toda essa elegância. No orignal, eram várias palavras soltas rimando com "brain rain". Como em português tem que rimar com "chuva pluva", inventei que "Judas usa luvas e abusa de uva numa chuva pluva".
Só a título de curiosidade, a edição em inglês também tinha um trocadilho que veio de graça na tradução! Na página 5, quando Rebis descreve a Sonâmbula, ele diz: "Her thoughts wrapped in wool. Cotton wool." A tradução literal seria: "Os pensamentos dela enrolados em lã. Algodão.", mas como preferi manter o trocadilho, ficou: "Os pensamentos dela enrolados em algo. Algodão."
Legal, não é?
Tradução de Bob Vertigo
Letras de Von DEWS!
Marcadores: Patrulha do Destino
24 Comments:
Parabéns ao trabalho do tradutor! Muito boas as referências que ele trouxe!
E com todo esse trabalho, ainda tem pessoas que não vem aqui dar um recado de incentivo, lamentável...
Von DEWS! muito obrigado por mais esta edição da Patrulha do Destino, só queria saber se vc vai dar sequencia no Homem Animal desculpa a cobrança mas estou ancioso pra ver as próximas edições , continue com esse belo trabalho que vc vem fazendo pois vc faz muita gente feliz com isso...
Cara, quanta dor de cabeça! mas são essas coisas que fazem valer a pena traduzir.
Tu lembrou de colocar uma página com essas referências dentro da própria HQ?
Puts, muito foda a pesquisa u_u
Dificilmente comento aqui! Mas depois de ver o trabalho que deu essa edição, rersolvi deixar ( o minimo que posso fazer) um comentário de incentivo!
Parabens mesmo! E continuem com o bom trabalho
O-Sensei,
Nem esquenta, rapaz! A gente tá aqui pra levar chibatada e entregar as revistas na hora!=P
Mas todos os comentários são bem-vindos!
Marcio Maxy,
Temos mais uma edição de Homem-Animal em andamento dependendo de nosso amigo dos infernos, Cimerian Satan. Em breve aparece!=)
Alexandre,
como disse acima, não informações apenas a títuo de curiosidade, não influem no história ou interferem no andamento da mesma. Só achei legal expô-la (nem o tradutor sabia que ia pô-la aqui) para mostrar a dedicação de nossa equipe em tentar fazer sempre o melhor! Não pus na revista, apenas aqui, propositalmente. Ler no blog também é cultura!=P
Muito obrigado, Nietzsche is Dead, BrunO e Doutor Radiotivo!
MEU! ESSE PESSOAL É D+!!
VALEU, 10! PROFISSA!
NAUM CANSO DE VIR AQUI!
De vez em quando tem que dar uma comentadinha mesmo, afinal, até mesmo aquele tal de Jesus da mitologia recebeu ajuda pra carregar a cruz. XD
Muito. Eu tinha baixado algums coisa novas e antigas e estava muito decepcionado com as traduções. Por causa da nota do Bob fui ler a Patrulha do Destino (de quem nunca fui muito fã) e acabou que tou viciado nela agora. O lado ruim é que agora vou ficar cobrando mais traduções dele. Trabalha!
E valeu pelo esforço.
Muito bacana isso. Sempre acho interessante essa coisa de traduzir o intraduzível, e outras línguas são quase sempre intraduzíveis, algo sempre se perde. Como diz o Millôr, num ataque de machismo: Tradução é como mulher, ou é bonita ou é fiel. Vcs conseguiram fazer as duas coisas, parabéns!
Que babaquice esse lance de referências.Quantas obras-primas existem na literatura
E quantas injustiçadas
Se toquem seus puxa-sacos.Me amo do jeito que sou!!!!!Vocês não leram nem 10% do NECESSÁRIO.Obras-primas são obras-primas.
Vão ler Castanñeda ou Huxley ignorantes.
Ei caras,esqueci de algo.Obras-primas são esplêndidas para se ler.Eu adoro.Mas para IGNORANTES que não sabem decifrar os arcanos delas,não passam de diversão que logo são esquecidas.
Por exemplo Alguém aí saca o desfecho inconsciente de 'Grande Sertão Veredas'
ANDROGENIA burros.Como em Matrix.
E a 'Divina Comédia'
É o nosso inferno de altos e baixos que nos levará ao 'paraízo' ou como queiram chamar pseudo-espertinhos....
Nossa, que loucura. Bob Vertigo mandou bem na tradução e ainda trouxe um pouco de cultura. Legal.
Digo ANDROGENIA.
E o que é cultura cara
Acumulação de babaquices
Os homens das cavernas eram muito mais felizes em comunhão com o TODO.
Cultura VAI ser boa.Por enquanto não passa de coleção de eruditismo nas suas formas compléxas e breguices na vulgaridade.
Aí!!!!!
Essas adulações me irritaram.Digo
androgenIa.James Joyce é bom.Guimarães Rosa é ótimo.E a tradudação do Bob é boa.
Mas sou mais a MINHA Sara Pezinni com aquelas roupas e aquele corpo caras!
Isso é CU-ltura!
oi JR! hauhsuha
Primeiramente, quero agradecer pelo post do von Dews. Foi uma grata surpresa. Também fiquei feliz com a repercussão dessa adaptação/homenagem, e queria responder a alguns dos comentários aqui.
O-Sensei, obrigado pelo comentário! Mas trabalhosas mesmo serão as edições 35 e 36... Você já leu a série, né? Deve saber porquê... Mas assim é mais divertido!
Alexandre Vega, pode deixar! Já traduzi até a edição 34, sempre buscando melhorar cada vez mais. E em breve voltarei com tradução para Os Invisíveis!
Panthro Samah, não falo com muito conhecimento de causa, mas acho que Patrulha do Destino deve ser uma das séries da DC mais difíceis de traduzir! Recheada de trocadilhos, rimas, anagramas (!) e até frases que formam uma sigla específica! Algumas coisas é possível contornar, algumas vezes acontece até de ficarem melhores na tradução, outras infelizmente acabam se perdendo. Mas o Von Dews tem sido de muita ajuda também pra me ajudar a encontrar as melhores soluções.
Morrison/Frank Miller/Alan Moore/Michael Turner, as referências são culpa do Grant, não minhas. Foi ele que começou! Hehehe... E Grande Sertão: Veredas é muito mais do que androgenia e a identidade do Menino. Achei seu resumo dessa obra-prima um tanto simplista. O suposto pacto com o Diabo que eu mencionei no e-mail também tem muita importância no romance, e assim como Diadorim, também atormenta o protagonista por toda a sua vida. E não sei se entendi bem o lance da Divina Comédia, mas acho que ela não tem essa moral aí, não. Que eu saiba, é uma crítica a várias figuras públicas da época, cujas posições no além-mundo refletiam os valores do autor. Mas posso estar enganado, claro... Não sou estudioso de Literatura.
Abraços.
PS: Errei meu próprio nome no post anterior...
PPS: Cliff Steele, Jane Maluca e Rebis é o trio de heróis mais legal das HQs!!
Voltei pra tecer um último comentário, que acho que convém.
Toda essa dificuldade (ainda assim, menor que a diversão) que eu e o von Dews temos passado com a tradução dessa obra, na minha opinião, só reforça o quanto o sempre polêmico Grant Morrison é mais digno de aplausos do que de vaias. Seja lendo ou traduzindo suas obras, percebe-se claramente que ele as escreve com muito coração, e o que é melhor, sem nivelar seu leitor pelo nível mais baixo de inteligência. As HQs que ele escreve não são lidas em 5 minutos, como muitas por aí. Acho que só Alan Moore escreve tanto texto numa HQ quanto o Morrison mantendo (ou pelo menos tentando manter) sempre a qualidade lá em cima.
E quando comecei a pesquisar sobre a Patrulha do Destino, me surpreendi com a quantidade de leitores gringos que consideram esta a melhor obra do escocês!
O Von Dews e toda equipe do Vertigem também estão de parabéns. Baixei toda a série Preacher deste blog, e como queria ler Doom Patrol de qualquer jeito, achei que seria bom contribuir ao invés de só me beneficiar.
A satisfação de vocês vale a pena todo o esforço.
VON, Tu é o cara!E depois ainda dizem que quadrinhos não é cultura!Um bom professor de filosofia, arte ou mesmo história poderia fazer aulas interessantíssimas utilizando hqs como esta...Mas aí vem professores e diretores despreparados e inertes e repudiam Will Eisner.....
Simplesmente fantástico e surpreendente. Toda essa riqueza na tradução deixou a edição ainda mais atraente e espetacular. Parabéns pelo trabalho, ficou realmente sensacional. Como fã da Patrulha, só tenho a agradecer!
Abraços!!!
Parabéns pelo trabalho e dedicação.
Realmente admiráveis.
Bob Vertigo e Von Dews: parabéns! Pelo esforço, e pela diversão que nos proporcionam com tanta seriedade no trabalho. Algo bem feito deve ser elogiado! Fico ainda mais feliz em saber que, possivelmente, vcs também estarão nos agraciando com traduções de alto nível em Os Invisíveis! Belo trabalho! Abraços!
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